quarta-feira, agosto 31, 2005

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

As Tecnologias da Informação e Comunicação no espaço rural
– As aldeias digitais.

Tão importante como, em tempos idos, foi levar a água canalizada, o telefone e a luz às aldeias é actualmente fundamental levar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), uma vez que tal significa levar Conhecimento e este é um dos factores para gerar riqueza e competitividade, especialmente em meio rural.
O largo da fonte, espaço de tertúlia e de encontro, que perdeu grande parte do seu significado com a chegada da água canalizada às casas, deve ser retomado pelo Cibercentro Comunitário, o qual poderá funcionar na sede de uma associação local, na Casa do Povo ou até mesmo num café/mercearia, como local de convívio e de reunião da aldeia, colocando-a em contacto com o Mundo. Para isso é necessário uma parceria com as associações ou com o comércio locais, uma vez que para haver sucesso, o cibercentro comunitário tem de nascer de dentro da comunidade e não imposto exteriormente por qualquer organização.
Depois da Revolução Agrícola e da Industrial, é a Revolução Tecnológica que ditará e já está a ditar a divisão do Mundo em termos de desenolvolvimento e subdesenvolvimento.
Os decisores políticos ao nível local, mais concretamente os autarcas, não podem estar distraídos só a construir rotundas, centros cívicos, casas de artes e cultura, jardins, urbanizações e abrir novas avenidas, também têm de construir as Auto-Estradas da Informação e estas têm de passar pelas aldeias, as quais são fundamentais para um ordenamento do território equilibrado e sustentável.
Nos Estados Unidos, onde o presente é o nosso futuro, começa-se a assistir a um processo de êxodo de população, altamente qualificada e sedenta de qualidade de vida, dos centros urbanos para as zonas rurais. Este processo acontece graças ao desenvolvimento das comunicações gerado pela era digital. São pessoas para as quais o teclado e o rato de um computador são algumas das suas ferramentas e a Internet o seu local de trabalho. São os ciber-trabalhadores que estão a povoar lentamente o ambiente rural, lado a lado com o autóctones desse espaço, numa simbiose perfeita. A tradição e a terra abraçam a tecnologia e o ciberespaço.
No entanto, se não existirem condições de instalação eles não aparecem e o processo de decadência e de desertificação do meio rural continuará até ao fim. Temos, pois, de nos preparar para receber estes novos aldeões – os aldeões digitais.
No campo das TICs o espaço rural poderá competir com as cidades, uma vez que oferece condições que promovem a produtividade, a criatividade e a qualidade de vida. Quem não trocaria uma cidade engarrafada, irrespirável, perigosa, impessoal e com custo de vida alto, por um meio onde impera a natureza, a calma, as relações humanas e onde os dias são mais longos, e que já não fica noutro planeta, como acontecia antigamente? Hoje assiste-se à criação de centros e parques tecnológicos, clusters e incumbadoras de empresas no meio do campo e longe das cidades. Não é com a Indústria que o espaço rural se tornará competitivo, é com a Tecnologia associada às suas Tradições e Património e ao serviço do Ambiente, das suas Gentes e do Turismo.
Com muitos anos de atraso, o Governo apresentou, no passado mês de Julho o programa nacional para a sociedade da informação, a que chamou Programa Ligar Portugal, o qual prevê a realização de investimentos na ordem de 2,5 mil milhões de euros, sendo que mil milhões serão estatais. Com este programa, o Governo pretende duplicar os utilizadores de Internet nos próximos 5 anos e triplicar o número de famílias com acesso à banda larga, procurando uma taxa de penetração a rondar os 60%. O tele-trabalho, a tele-medicina também estão contemplados no Programa, o qual espera gerar mais postos de trabalho na área das TICs. É, pois, uma oportunidade a não perder.
Mas será possível que os excluídos rurais se transformem em incluídos digitais? É possível e já foi feito, embora em escala reduzida.
Em Portugal existem projectos piloto de aldeias digitais, os quais foram implementados com sucesso. Contudo, para que haja de facto um autêntica revolução neste campo, terá de ser criada uma verdadeira necessidade por parte das pessoas para retirar todo o potenclal das TICs.
No Brasil, existe um caso muito interessante. Um brasileiro, funcionário da NASA nos Estados Unidos, esteve a viver durante 6 meses numa comunidade rural, das mais isoladas do país, para entender, com os seus próprios meios, as verdadeiras necessidades dela. A sua ideia era consciencializar a população rural sobre a importância da inclusão digital. Este engenheiro brasileiro admitiu que o processo de inclusão é lento, mas hoje essa comunidade diz não saber viver mais sem a Internet.
Noutras iniciativas similares, os jovens passaram a fazer suas pesquisas escolares pela Internet, não tendo sequer necessidade de recorrer a bibliotecas, por vezes situadas longe das suas casas, criaram-se lojas virtuais de venda de produtos locais para todo o Mundo, cursos educacionais à distância, jornais locais electrónicos, até mesmo petições ao governo sobre assuntos que eram importantes para a comunidade.
O desafio que o Portugal rural enfrenta é grande. Além da nossa população rural ser envelhecida e com baixas ou mesmo nenhumas qualificações escolares, ainda somos o 2º país com menor ligação à internet no Ensino Básico. Contudo, os portugueses aderem facilmente às novas tecnologias, quando estas são colocadas à sua disposição e quando delas ficam necessitados. Quem não se lembra dos telemóveis e do multibanco, do envio da Declaração de IRS pela internet, por exemplo?
Basta haver vontade política e autarcas empenhados e minimamente esclarecidos. Já agora, sugiro uma iniciativa, porque não criar em todos os concelhos o Dia da Inclusão Digital?
Finalmente, haverá muito cepticismo relativamente às minhas palavras. Vão-me chamar utópico. Mas é a Utopia que comanda o Homem. Se assim não fosse, nunca teríamos viajado no Espaço nem pousado na Lua.


Vítor Carmona Ramos
Licenciado em Relações Internacionais.

quarta-feira, agosto 03, 2005

Inventário do Património Arquitectónico - Castelo de Rodão / Castelo do Rei Vamba


Castelo de Rodão / Castelo do Rei Vamba

IPA
Monumento

NºIPA
0511040004

Designação
Castelo de Rodão / Castelo do Rei Vamba


Localização

Castelo Branco, Vila Velha de Rodão, Vila Velha de Rodão

Acesso
Ao km. 3 da EM para Vilas Ruivas, por caminho em terra batida, com direcção Sudeste

Protecção
IIP, Dec. nº 45/93, DR 280 de 30 de Novembro 1993 *1

Enquadramento
Rural, situa-se no extremo S. da Serra das Talhadas ou Serra de São Miguel, num cabeço de constituição xistosa coberto por vegetação arbustiva e arbórea, sobranceiro ao Tejo e ao monumento geológico denominado Portas do Rodão. O Castelo implanta-se a 315 m. de altitude no interior do recinto muralhado dominado por um afloramento granítico. A 50 metros, situa-se a Capela de Nossa Senhora do Castelo (v. 0511040013).

Descrição
Recinto muralhado de traçado ovalado irregular; muralha parcialmente desmoronada e constituída por dois panos de cantaria com enchimento ciclópico; vestígios de construções constituídos por pequenos blocos graníticos *2. Torre de Vigia implantada na zona NE., com planta rectangular e volume paralelepipédico, actualmente desprovida de cobertura. O alçado S. tem o primeiro registo cego e, presentemente, apresenta rombo de grandes dimensões. O segundo possui porta em arco quebrado com lintel recto e tímpano com a cruz da Ordem do Templo insculpida, tendo numa das aduelas do arco a marca de canteiro com a forma de S colocado horizontalmente. Alçados N., S., e O. são semelhantes, com o primeiro registo cego e seteira no superior. Os remates encontram-se incompletos. Apresenta o travamento dos cunhais parcialmente destruído. INTERIOR tem o primeiro piso entulhado e a marcação do pavimento do segundo surge no nível do pavimento através de ressalto. Porta coberta com abóbada de berço quebrado, conservando os gonzos em cantaria.

Utilização Inicial
Militar: castelo

Utilização Actual
Marco histórico-cultura: castelo

Propriedade
Pública: estatal

Afectação
Sem afectação

Época de Construção
Séc. 12

Arquitecto / Construtor / Autor
Desconhecido.

Cronologia
Séc. 7 - lendária edificação do castelo pelo monarca visigodo Vamba; séc. 11 / 12 - hipotética construção de castelo ou atalaia, talvez sobre pré-existências castrejas, por iniciativa dos Templários; a torre subsistente poderá tratar-se apenas de uma torre de vigia ou também de uma torre de menagem; 1199 - doação da Herdade da Açafa aos Templários por D. Sancho; 1505 - cerca de pedra e barro, derrubada em partes; séc. 18, meados - utilização do castelo como base de artilharia para protecção da passagem do Tejo; construção de baterias na encosta *3; séc. 19, início - reconstrução do castelo e preparativos para a 1ª Invasão Francesa, por iniciativa do Marquês de Alorna; 1999, Agosto - Câmara Municipal de Castelo Branco, IPPAR e IPA apostam na recuperação do Castelo do Rei Vamba e zona envolvente, nomeadamente as muralhas; 2004, Junho - projecto de arranjo exterior pela Câmara Municipal; Julho - projecto de consolidação e reabilitação da torre e muralhas, pela DREMC.

Tipologia
Arquitectura militar, medieval. Recinto muralhado de traçado ovalado irregular, com torre de vigia de planta rectangular, com porta a nível do segundo piso, em arco quebrado com tímpano liso, que servia de protecção da linha do Tejo, mais precisamente das portas do Ródão. Seteiras simples no segundo registo dos restantes alçados.

Características Particulares
Diminuição da espessura murária em função da altura. Porta com a cruz da Ordem do Templo insculpida.

Dados Técnicos
Paredes portantes em alvenaria de granito argamassada, travada por cunhais em silharia de granito (torre); paredes autoportantes em alvenaria de granito e xisto argamassada (muralhas).

Materiais
Estrutura da torre em alvenaria e cantaria de granito argamassada; estrutura das muralhas em alvenaria de granito e xisto argamassada.

Bibliografia
COSTA, António Carvalho da, Corographia Portugueza, Lisboa, 1706 / 1712; LEAL, Pinho, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873; PROENÇA JÚNIOR, Francisco Tavares, Archeologia do Distrito de Castelo Branco - 1ª Contribuição para o seu Estudo, Leiria, 1910; BEJA, Humberto, Castelos de Portugal, os Castelos da Beira Histórica, Porto, 1922; VEIGA, Duarte, Castelos e Monumentos Militares das Beiras, in Boletim da Casa das Beiras, Lisboa, 1939, nºs 11 - 12; SOROMENHO, Paulo Caratão, Lendário Rodanense, in Revista de Portugal, 1965, série A, vol. XXX; HENRIQUES, Francisco, Património Artístico Ignorado - Notável Frontal de Altar do Séc. XVII em Vila Velha de Rodão, in Beira Baixa, Castelo Branco, 30 Abril, 1974; SALVADO, António, Elementos para um Inventário Artístico do Distrito de Castelo Branco, Castelo Branco, 1976; SANTOS, Valdez, A Ocupação Francesa de Junot segundo documentos existentes no Arquivo Histórico e Militar, in Boletim do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1977, vol.36; MONTEIRO, J. Pinho e GOMES, Mário Varela, Os Menhires da Charneca do Vale Sobral ( Nisa ), in Revista de Guimarães, Guimarães, 1978, vol. LXXXVII; ALMEIDA, José António Ferreira de, dir., Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1980; HORMIGO, José Joaquim M., Plantas de Povoações da Beira Baixa (séc. XVIII), Lisboa, 1980; NUNES, António Lopes Pires, Torres de Vigia da Beira Baixa, in I Congresso sobre Monumentos Militares Portugueses ( Vila Viçosa ), Lisboa, 1982; HORMIGO, José Joaquim M., A Beira Baixa vista por Artistas Estrangeiros ( Séc.s XVIII-XIX ), Castelo Branco, 1983; DIONÍSIO, Sant'Ana, Guia de Portugal, Lisboa, 1984; GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia. Beira, vol. I, Lisboa, 1997; Jornal do Fundão, 20 Agosto 1999.

Documentação Gráfica
DGEMN: DSID

Documentação Fotográfica
DGEMN: DSID

Documentação Administrativa
DGEMN: DSID

Intervenção Realizada
CMVVR / Associação de Altos Estudos do Tejo: 2000 / 2001 - sondagem arqueológica no castelo.

Observações
*1 - classificação conjunta com a Capela de Nossa Senhora do Castelo (v. 0511040013). *2 - extramuros observam-se vestígios superficiais de fragmentos cerâmicos. *3 - na encosta virada para o Tejo, no sítio denominado por Batarias, existiam vestígios de baterias (Pinho Leal, Duarte Veiga).

Autor e Data
Margarida Conceição 1994

Actualização
Maria Fernandes 2005

Este documento foi-nos enviado por Nuno António.

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