quinta-feira, fevereiro 16, 2006

IMPORTÂNCIA DO PATRIMÓNIO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO DA REGIÃO DE VILA VELHA DE RODÃO

A região de Vila Velha de Ródão possui um relevante património natural, com destaque para valores geológicos, geomorfológicos, paisagísticos e ecológicos. Existem alguns que se salientam pela importância científica, outros principalmente pelo valor didáctico, e ainda outros por aspectos estéticos e de fruição do ambiente natural envolvente. Também existem locais de importância arqueológica e um património de arquitectura rural tradicional.
É desejável inventariar, estudar e promover a divulgação deste património de modo a que possa ser usufruído por um público cada vez mais amplo, através de actividades de Educação Ambiental (ex. visitas guiadas para alunos) e Turismo de Natureza (com a marcação e manutenção de percursos, realização de visitas guiadas para grupos, elaboração de textos de apoio, etc.). Também é necessário realizar acções de valorização ou de reabilitação, bem como assegurar a sua protecção (evitando a destruição ou a ocupação urbana/industrial de áreas patrimoniais, etc).
Património geológico

Existe um diversificado registo geológico, com valor científico e didáctico. Destaque para os afloramentos de rochas sedimentares, metamórficas e magmáticas que são testemunhos da história da Terra do Pré-Câmbrico ou Câmbrico (pelo menos, desde há cerca de 600 milhões de anos) até à actualidade, estruturas tectónicas (dobras, falhas de desligamento, cavalgamentos, estrias), fósseis (bilobites, bioturbações, troncos), paleoalterações, etc.
A documentar o Terciário existe um grupo de formações arcósicas que testemunha uma vasta drenagem fluvial e um outro grupo, mais recente, que materializa a resposta sedimentar às fases de soerguimento da Cordilheira Central Portuguesa, sendo essencialmente formado por depósitos de cone aluvial localizados no sopé de escarpas tectónicas. As formações terciárias encontram-se limitadas por descontinuidades sedimentares regionais que têm correspondência com aplanamentos do soco. Regionalmente, o substrato do Terciário apresenta-se muito plano nas regiões metassedimentares (filitos e metagrauvaques) mas apresenta imponentes relevos residuais quartzíticos ao longo dos sinclinais ordovícicos.
A formação terciária culminante (Formação de Falagueira), que antecede o encaixe da rede hidrográfica, testemunha um sistema fluvial precursor do Tejo actual; já atravessava as cristas de Vila Velha de Ródão, sendo responsável pela melhoria do arrasamento destas, num sector imediatamente a sul das Portas de Rodão. Esta antecedência da drenagem explica o traçado epigénico do Tejo nas Portas de Ródão
Existe um registo estratigráfico cenozóico que documenta bem a transição da fase de enchimento à fase de esvaziamento sedimentar da Bacia do Baixo Tejo, com progressivo encaixe da rede hidrográfica (atribuível ao Quaternário). Através da análise de fotografias aéreas verticais e de mapas topográficos, execução de cartografia geomorfológica e de estudos de campo, distinguiram-se cinco embutimentos da rede fluvial. Cada um destes está, geralmente, representado por coluviões (C) e depósitos de terraço (T), que podem ligar-se lateralmente a um nível erosivo (N). A partir do nível de colmatação sedimentar, representado no cimo plano dos retalhos da Formação de Falagueira, junto a Vila Velha de Ródão, na confluência do rio Tejo com a ribeira do Açafal, sucedem-se (do mais antigo para o mais recente): 1) T1 - Terraço de Monte do Pinhal e N1 - Nível de Fratel; 2) T2 - Terraço de Monte da Charneca e N2 - Nível de Lameira; 3) T3 - Terraço do Monte de Famaco; 4) T4 - Terraço da Capela da Senhora da Alagada; 5) vale com aluviões holocénicas.
Muito interessantes são os diferentes registos morfossedimentares de sucessivos troços do rio Tejo; o desigual controle tectónico levou a que localmente se formassem, ou não, sucessivos níveis de erosão (terraços de rocha", com ou sem depósito sedimentar ("terraços sedimentares").

Património geomorfológico e paisagístico

Percorrendo curtas distâncias podem contemplar-se paisagens muito diversificadas e de inegável beleza, como as que se podem fazer no Castelo, nas Portas de Ródão, Taberna Seca, Arneiro, etc.
A excelência desta área para a investigação geomorfológica não passou despercebida a Orlando Ribeiro, tendo publicado resultados de um trabalho focalizado nesta área; mais tarde, foi publicada a carta geológica 1/50.000. A região situa-se na transição da Bacia Terciária do Baixo Tejo para os relevos da Cordilheira Central Portuguesa, essencialmente constituídos por rochas metamórficas, transição essa que se processa por uma escadaria de blocos tectónicos. São evidentes várias escarpas, nomeadamente as da falha do Ponsul e a do Duque-Arneiro, bem como um expressivo controle tectónico no traçado da rede hidrográfica. Imponentes cristas quartzíticas destacam-se sobre uma escadaria de aplanamentos ligados ao encaixe dos cursos de água que deixou relevos residuais sedimentares (testemunhos da Formação de Falagueira). Para sul, vislumbra-se a Superfície de Nisa (peneplanície do Alto Alentejo).
Muito didáctica é a possibilidade de comparar a interpretação de depósitos sedimentares quaternários e aspectos geomorfológicos associados, com os processos morfodinâmicos actuais.

Património arqueológico

Nas imediações de Vila Velha de Ródão existem diversas estações arqueológicas: as denominadas de Monte do Famaco e de Vilas Ruivas localizam-se no terraço T3; a estação de Foz do Enxarrique situa-se no terraço T4.
Chama-se também a atenção para uma extensa escombreira resultante de uma muito antiga corta mineira (designada localmente por conheira ou conhal) que na margem esquerda do Tejo, imediatamente a jusante das Portas de Ródão, resultou da exploração do depósito de terraço aos 100-122 m de cota. Semelhante a outras já identificadas ao longo do Tejo desde Vila de Rei às Termas de Monfortinho (neste último local, no vale do Erges), são testemunhos da extracção (provavelmente romana e/ou medieval) supostamente de ouro da matriz de conglomerados. Recentemente, a Autarquia de Nisa conseguiu parar a extracção de balastros que a vinha destruindo e tem desenvolvido esforços com outras instituições para o reconhecimento formal como património arqueológico-mineiro.

Proença e Cunha
(enviado por: jorge cardoso jomaca@netcabo.pt)

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